Península de Setúbal, ao sul de Lisboa, produz castas brancas e tintas de vinhos que harmonizam com a culinária do Brasil
O Brasil se tornou o principal mercado de exportação da Península de Setúbal. — Foto: Divulgação
Os vinhos portugueses estão entre os queridinhos dos brasileiros há anos. Mas as produções da Península de Setúbal, região que fica ao sul de Lisboa e 2 ª região que mais vende em Portugal, têm ganhado cada vez mais espaço na adega daqueles que não dispensam um bom vinho do lado de cá do Atlântico. Aos, poucos o Brasil se tornou o principal mercado de exportação da região. Em 2021, foram 1,3 milhões de litros exportados por mais de 20 vinícolas, um crescimento superior a 40% em relação ao ano de 2020.
– A pandemia induziu uma mudança na maneira de consumir. No tempo de confinamento, algumas das nossas principais marcas ficaram disponíveis online, com bons valores. Esse somatório de circunstâncias foi favorável – avalia Henrique Soares, presidente da Comissão Vitvinícola da Península de Setúbal (CVRPS).
O apreço dos brasileiros pelos vinhos de Setúbal, segundo Henrique, está relacionado com a localização geográfica onde as uvas são plantadas. A viticultura da península possui uma área total de cerca 8.000 hectares distribuídas pelos 13 concelhos – nome dado às subdivisões territoriais em Portugal – que compõem o Distrito de Setúbal, sendo a maior incidência da plantação em locais conhecidos como Palmela, Montijo, Setúbal, Grândola e Alcácer do Sal.
– Estamos localizados no sul de Portugal. Temos horas de sol, mas uma frente fresca do Atlântico, que dá frescura e um caráter salino. É um cruzamento bastante singular. São vinhos muito frutados, fáceis de agradar o paladar. E tem a característica de não serem pesados nem enjoativos – aposta Henrique.
A região produz vinhos brancos e tintos. Entre as castas brancas mais famosas estão Fernão Pires e Moscatel de Setúbal, enquanto as tintas se destacam nas Moscatel Roxo, Touriga Nacional, Syrah e o Castelão, sendo essa a principal casta da região e plantada em 50% do local. António Soares Franco é um dos administradores e integra a sétima geração da família da vinícola José Maria da Fonseca, fundada em 1834. O segredo de um bom vinho, para ele, está na qualidade das uvas.
– Ter boas uvas é fundamental. E, para isso, precisamos ter bons solos, boas localizações, as castas corretas plantadas nos lugares corretos. E cuidar delas durante todo o ano, apanhá-las no tempo certo. Quando ela está madura, é quando encontrou o equilíbrio certo de açúcar, de álcool potencial e outros componentes importantes – explica ele.
A Península de Setúbal produz vinhos brancos e tintos — Foto: Getty Images
A vinícola José Maria da Fonseca está no mercado brasileiro desde o século XIX e vê no país um enorme potencial de compra. Para ele, os brasileiros apreciam os vinhos portugueses por conta dos laços históricos e culturais entre os dois países.
– Somos os produtores dos vinhos com a marca Periquita, que já está no Brasil há anos e é uma referência. E temos os Moscateis de Setúbal, que vendemos desde o século XIX, e o cliente brasileiro conhece a enorme qualidade dele. Acho que essa admiração pelos nossos vinhos vem da ligação que os dois países têm – aposta António.
História e tradição
Os vinhos Moscatel de Setúbal estão entre os destaques da região. Produzidos a partir das castas Moscatel de Setúbal ou Moscatel Roxo, são considerados o “patrimônio nacional português que se bebe”, e é apreciado pela nobreza e pelo povo há centenas de anos.
– A Moscatel de Setúbal é conhecida como Moscatel de Alexandria, porque foi a partir da cidade de Alexandria, no Egito, que chegou a Portugal. É o símbolo da região, a grande estrela dos portugueses. O rei Luiz XV fazia questão de que, nas festas que dava no Palácio de Versalhes, fosse servido o Moscatel de Setúbal. Ele é generoso, aromático, acompanha as sobremesas e toda a culinária do Brasil. E o brasileiro está descobrindo isso – conta o sommelier Marcelo Marques.
O apreço dos brasileiros pelos vinhos de Setúbal está relacionado com a localização geográfica onde as uvas são plantadas.
Fernando Lima, especialista em vinho e professor da Associação Brasileira de Sommeliers, diz que nas aulas que ministra os Moscateis de Setúbal surpreendem os alunos pela qualidade. Ele acredita que o mercado brasileiro tem muito potencial a ser explorado, especialmente em restaurantes.
– O brasileiro gosta de vinho português de modo geral. E os vinhos de Setúbal têm qualidade, complexidade. E um potencial gastronômico incrível. Os Moscateis, por exemplo, são ótimos para serem servidos como sobremesa e como entrada. O Brasil é um mercado que interessa muito a Portugal – destaca ele.
Fonte: O Globo