É a singularidade da fauna e flora da “Serra Mãe” que dá sabor ao Queijo de Azeitão e aos vinhos também. Se a Arrábida deixar de ter um solo saudável e disponível tudo se perde.
Setúbal está em segundo lugar no ranking “The World”s Top 10 Wine Destinations for 2023”. O guia aconselha um mergulho nas praias e passeio pelo “cenário natural da Serra da Arrábida”. Pede tempo para provar Queijo de Azeitão e destaca os vinhos de Setúbal, em especial o “complexo” e “matizado” Moscatel.
Arrábida, vinho e queijo movimentam todos os anos mais de 20 milhões de euros na região de Setúbal. A tríade tem grande fama além fronteiras e representa o quanto a unicidade ambiental pode ser mantida, em nome da sustentabilidade e da economia regional.
Dos vinhos produzidos na região de Setúbal “103 marcas estão relacionadas com vinhas do Parque Natural da Arrábida”, descreve Luís Narciso, da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS). E só para a produção do vinho certificado DO Palmela e DO Setúbal e Vinho regional da Península de Setúbal, a CVRPS estima “perto de 400 hectares dentro do Parque Natural da Arrábida”. Os números ainda vão aumentar.
A CVRPS tem conhecimento de pedidos de novas plantações de vinha no Parque Natural da Arrábida e reconhece que dali saem alguns dos melhores vinhos portugueses. As diferenças geográficas das planícies, as serras e encostas, a proximidade ao Sado e Atlântico, tudo faz parte de um equilíbrio ambiental que dá aromas únicos aos vinhos.
Cercas apertadas, vasilhas vazias
“Moscatel de Setúbal e Queijo de Azeitão estarão sempre associados ao território Arrábida” diz Ruben Fernandes produtor deste queijo. É a singularidade da fauna e flora da “Serra Mãe” que dá sabor ao Queijo de Azeitão e aos vinhos também. “Se a Arrábida deixar de ter um solo saudável e disponível tudo se perde”. Para os produtores de leite a cerca está cada vez mais apertada. Nas vinhas, temperaturas extremas e a indústria pesada deitam por terra as safras da Arrábida.
Ruben Fernandes representa a segunda geração da Victor Fernandes Queijaria, a mais antiga produtora de Queijo de Azeitão. Seguindo a receita aprendida com o “ti Alfredo” que guardava segredos trazidos da Serra da Estrela, ali produzem-se mil queijos por dia.
O saber de “Ti Alfredo” nunca poderia ter dado resultados iguais aos da Serra da Estrela em Azeitão. Para ter a DOP (Denominação de Origem Portuguesa) “um queijo precisa de sal e cardo, que são iguais para todos os produtores, o leite é o que o faz único”. Tudo começa na terra onde os animais pastoreiam.
“Manter a exclusividade do sabor é cada vez mais difícil quando o leite produzido a partir de pastoreio no Parque Natural da Arrábida é cada vez menos” e sem ele perde-se o leite e o DOP. Em 2022, o ciclo do Queijo de Azeitão foi abalado. Retirou-se um produtor que representava 20% do leite e “faltou leite para todos os produtores de queijo”.
Ruben Fernandes lamenta que “as dificuldades para obter uma licença definitiva leve os produtores de leite a desistirem da atividade”, tal como acontece com os criados de gado e os pastores. Para concorrerem a fundos comunitários, os produtores de leite e gado precisam dessa licença, que “depende da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural e da Câmara Municipal de Palmela, onde parece haver maior interesse em licenciar construções”. Se o Queijo de Azeitão começar a faltar “talvez tomem outras decisões”.
Fonte: Diário de Notícias